dicasObra coordenada pelos investigadores Alberto Sá, Pedro Portela, Luís António Santos, Luís Pereira e Sandra Marinho, todos do Centro de Estudos em Comunicação e Sociedade (CECS) da UMinho, com prefácio de Manuel Pinto, também do CECS.

O livro “Dicas para investigar em Ciências Sociais e Humanas” nasce da experiência de cinco investigadores do Centro de Estudos em Comunicação e Sociedade (CECS) da Universidade do Minho – Alberto Sá, Pedro Portela, Luís António Santos, Luís Pereira, Sandra Marinho – na elaboração das suas teses de doutoramento e aspira a ser um auxiliar de percurso para muitas viagens individuais com objetivo semelhante.

O livro está organizado em sete grandes áreas temáticas (Interrogar, Explorar, Situar, Descobrir, Prevenir, Viver e Personalizar) que correspondem, em traços genéricos, a outros tantos momentos do processo de investigação. Partindo de um conceito próximo do de uma caixa de ferramentas, há aqui, naturalmente, o apelo a um uso muito funcional das sugestões. A escrita é o mais concisa possível, tentando aproximar-se do estilo adotado numa curta mensagem de texto (no Twitter, por exemplo) e recorrendo ainda ao uso de palavras-chave (tags) para agilizar eventuais pesquisas.

 

O prefácio foi escrito por Manuel Pinto, investigador do CECS e coordenador da linha de investigação de Média e Jornalismo:

O doutoramento constitui um momento importante da carreira académica ou, simplesmente, do percurso de estudo e de investigação de quem pretende aprofundar e criar conhecimentos num domínio do saber. Outrora era frequente ser o ponto culminante de uma vida dedicada à investigação. Hoje, cada vez mais, constitui o requisito para receber carta de alforria na investigação autónoma e na orientação de novos investigadores. É por isso que claudicar na exigência e no rigor, num processo de doutoramento, equivale a comprometer a qualidade da vida académica e do contributo que os doutores novos poderão dar na sociedade. Tudo aquilo que possa, assim, concorrer para que a empresa do doutoramento possa ser levada a bom porto, permitindo atingir os seus objetivos sem deixar excessivos estragos, deve ser saudado e bem acolhido. É o caso deste trabalho que, em boa hora, um grupo de cinco colegas do CECS decidiu elaborar e publicar. Ele destaca-se, na sua simplicidade e despretensiosismo, por entrar naquilo que, algo pomposamente, poderíamos designar pelo “território do não-dito”.

Há quem produza um “vademecum” ou procure compendiar questões e respostas para desafios do género “tudo aquilo que sempre quis perguntar, mas não teve coragem ou não sabia a quem”. Aqui não é esse, ou não é bem esse, o objetivo. Trata-se sobretudo de dicas, apontamentos ou de “vitaminas” para atravessar esse “não-lugar” e esse “não-tempo” que é a preparação da tese de doutoramento. Aparentemente mais fragmentário e mais volátil, tem, no entanto, o condão de se aproximar da mais da vida, sobretudo daquelas dimensões e vicissitudes que normalmente não vêm em nenhum vademecum e, muito menos, em nenhum dos muitos manuais de investigação.

Ao adotar a perspetiva vivencial, os autores falam de experiência feita, a qual está, de resto, ainda fresca. E é enquanto está fresca que mais importa partilhá-la, como é bom de ver. Esse vivido comporta dimensões várias, nomeadamente afetivas, emocionais, relacionais, cognitivas, institucionais. Um trabalho como o presente não se propõe ser certamente um conselheiro psicológico. Não será, todavia, despropositado acentuar, num contexto destes, que um dos requisitos para fazer face ao doutoramento é gostar do que se estuda (ainda que o gosto possa nascer também durante o processo). Isto pressupõe alguma ponderação e tempo dedicado à escolha do problema a estudar, bem como avaliar se estão reunidas as condições básicas para esta aventura que tem sempre uma parte de “travessia do deserto”.

Vale a pena, na medida em que isso for possível, conciliar as ‘dicas’ deste livro com aquelas que podem advir do encontro face a face com quem faz a mesma viagem. Não há muitos anos, uma colega, que muito admiro, criou uma espécie de grupo de “doutorandos anónimos” que partilhava ao vivo as suas experiências, com as descobertas, interrogações e ansiedades a elas associadas. Este trabalho vai na mesma direção e é dele complemento.

E na sua simplicidade é fiel àquele lema do médico e filósofo renascentista bracarense, Francisco Sanches, para quem “o verdadeiro caminho do conhecimento reside em examinar as próprias coisas” (resipsas examinare – verus est sciendi modus). Ao questionar os princípios escolásticos e a ideia de uma ciência feita, abria terreno ao exame das “próprias coisas”, ou seja, aquilo que apreendemos pela observação e pela experiência. Questionar o óbvio e o naturalizado e evidenciar o que há de construído e de provisório no processo de elaboração do conhecimento é um modo de “desdramatizar” e desmitificar não só o conhecimento, mas o processo individual e social da sua construção. E, por maioria de razão, do doutoramento.

Os autores destas ‘dicas’ deixaram, propositadamente, a sua obra inacabada. Na verdade ela nunca estará terminada, porque infindas e irrepetíveis são as experiências dos doutorandos. Mas foram mais longe e desafiam-nos a todos a completá-la reservando um espaço para continuar a escrita. Convidam-nos, assim, a ser participantes, e não apenas leitores interessados. Sugerindo já um contributo nesse sentido, deixo uma sugestão: sendo a relação entre doutorando e orientador(es) parte integrante do processo de doutoramento, e uma vez que tal relação é normalmente um dos vetores da experiência de investigação e de escrita, que “vitaminas” propor aos orientadores? E estes? Não deveriam escrever as suas próprias ‘dicas’, como aqui fazem os doutorandos?

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