O Prémio Raul Proença, edição de 2013, foi entregue à vencedora, Tatiana Sanches, em cerimónia que teve lugar na Biblioteca Nacional de Portugal, no dia 14 de Março de 2015.

O prémio, com o valor pecuniário de 2.500 euros, foi entregue por José Manuel Cortês, director-geral da Direcção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, entidade que o patrocina. A apresentação da vencedora e do respetivo trabalho (ver  texto neste jornal) foi feita por José António Calixto,  membro da Comissão Executiva da BAD, responsável pelo Sector Editorial e, nessa qualidade, igualmente membro do júri que o escolheu.

Nessa oportunidade a galardoada proferiu as palavras  de aceitação e agradecimento que a seguir se transcrevem na íntegra.

José Manuel Cortês, Tatiana Sanches e José António Calixto
José Manuel Cortês, Tatiana Sanches e José António Calixto Foto de José Correia

Expresso os meus sinceros agradecimentos a todos aqueles que tornaram possível a minha presença aqui hoje na qualidade de premiada.

É com grande emoção que agradeço aos meus colegas de profissão, particularmente aos integrantes do júri do Prémio Raúl Proença, que sob a Presidência Dra. Alexandra Lourenço, me distinguiram, em nome da Associação Portuguesa de Bibliotecários Arquivistas e Documentalistas.

Uma palavra de apreço ao Professor Doutor António Calixto, cujas palavras muito me beneficiam, porque, sabiamente, sempre conseguiu ver as melhores qualidades e virtudes nos seus alunos e colegas.

Agradeço, reconhecida, à Direção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, na pessoa do Dr. José Manuel Cortês, o patrocínio deste prémio. Esta recompensa é não apenas material, mas também plena de satisfação interior e de motivação renovada.

É para mim uma honra e um prestígio ficar assim associada ao Prémio Raúl Proença, à BAD e à DGLB, na sequência de um trabalho académico de investigação ao nível de doutoramento, que procurou sobretudo tratar de questões profissionais.

Agradeço a todos a vossa presença. É um orgulho poder integrar a comunidade de bibliotecários, arquivistas e documentalistas, particularmente como associada e membro de dois grupos de trabalho da BAD – o das bibliotecas escolares e o das bibliotecas de ensino superior. A nossa Associação tem demonstrado um notável desempenho em prol dos interesses coletivos, através das atividades diversas, dos objetivos profissionais, técnicos e científicos aos quais se tem dedicado.

O meu percurso académico e formativo tem estado ligado às bibliotecas públicas e escolares e, nos anos mais recentes, às bibliotecas em contexto universitário. Adotei, ao longo destes vinte anos de profissão uma estratégia: a de melhorar o meu nível de desempenho individual, no contexto do exercício profissional. Foi este o motivo que me fez prosseguir os estudos superiores a par da profissão técnica que já desempenhava, tendo investido em obter formação académica que acrescentasse saber aplicável à minha prática. A pós-graduação em Ciências Documentais, o Mestrado em Educação e Leitura, e finalmente o doutoramento em História da Educação, cuja investigação mereceu esta distinção, são disto exemplos. Tenho procurado consolidar um quadro teórico-prático que sustente, aprofunde e adense o pensamento crítico sobre o exercício da minha profissão, de que beneficia, assim creio, a gestão dos serviços a que tenho estado ligada.

A reflexão sobre a prática profissional implica a assunção de um papel interventivo e responsável, a partir dos conhecimentos técnicos e académicos. Tal impele o profissional a conceber novas estratégias, a implicar-se nas mudanças e a conceptualizar a sua prática, num permanente diálogo com a teoria.

A experiência do doutoramento foi uma procura de mobilizar e sistematizar o conhecimento científico atual sobre temas que interessam à profissão bibliotecária. Mas foi sobretudo uma experiência interior de transformação pessoal. 

A investigação e a escrita de um trabalho desta natureza obrigam-nos a um permanente confronto com as nossas capacidades, mas também com as nossas fragilidades. Com as possibilidades imensas de conhecimento e aprendizagem, mas também com as limitações que nos constituem. É um percurso difícil, que pode ser comparado à subida de uma montanha: duro, sofrido, com hesitações, angústias e medos. Mas quando se chega ao topo, uma satisfação interior imensa, uma comoção, uma conexão com a nossa vulnerabilidade, toca o nosso ser mais íntimo. Isto torna-nos mais fortes, mais capacitados e com mais possibilidades de crescer. Não porque tenha chegado o fim, mas precisamente porque avistamos, com um horizonte mais largo, outras montanhas para subir.

Aqui chegada, a maior satisfação é a de saber que podemos, a partir da investigação, qualificar o nosso trabalho, dar credibilidade e conferir confiança aos que dele beneficiam, tomar posições e intervir com maior propriedade.

E o que nos espera a profissão, avistando assim, com uma perspetiva renovada?

A atualização profissional dos bibliotecários é um dos mais urgentes domínios de intervenção que nos deve mobilizar. As associações profissionais, os espaços públicos, as escolas técnicas e as universidades, as redes sociais, os encontros profissionais, são locais que propiciam o ampliar de perspetivas relativamente aos novos papéis dos bibliotecários e à sua forma de agir.

Novos territórios se abrem para a nossa atuação, permitindo expandir as fronteiras da classe e responder a novos desafios. Partilho alguns tópicos que nos podem inspirar e servir de mote para a reflexão.

– A importância da adaptação da formação académica para fazer face a estes novos desafios em Portugal (no formato curricular, no aprofundamento dos conteúdos, ao nível técnico e de ensino superior);

– A discussão sobre os diversos perfis dos profissionais de informação e a sua capacitação, com maior abrangência e intervenção, por exemplo, ao nível tecnológico, pedagógico, editorial ou de gestão;

– A ação individual e coletiva através da pertença a redes e comunidades diversas, sejam elas académicas, profissionais, informais, virtuais, ou outras, onde se podem utilizar formas de comunicação e aprendizagem renovadas para estimular conexões entre os membros dessa comunidade;

– As preocupações com gestão de dados digitais e infraestruturas de redes globais, com a interação das tecnologias e com a resposta ao universo digital, exigem também uma particular atenção, designadamente ao nível ético e de inclusão social;

– As necessidades de avaliar continuamente a nossa ação, prestando contas publicamente e mostrando o valor intrínseco de espaços, recursos e equipamentos através da demonstração do retorno dos investimentos;

– A atenção premente relativa à mudança de comportamento dos utilizadores na pesquisa de informação e os papéis e responsabilidades dos atores envolvidos;

– A necessidade de permitir e incentivar a literacia de informação em contextos diversificados que vão para além do espaço da biblioteca, procurando que esta seja uma ferramenta útil na aprendizagem ao longo da vida;

E muitos mais… Estes e outros assuntos estão na ordem do dia das nossas preocupações. Escolher um deles para estudar e aprofundar, para intervir criticamente e acrescentar saber que melhore o conhecimento comum e as práticas profissionais, é uma possibilidade que está ao alcance de cada um de nós.

Algo que concretizei, quando me dediquei a estudar a aprofundar o tema da literacia de informação. Mas também esse percurso não se realizou a sós. É por isso que tenho mais alguns agradecimentos para fazer.

Ao meu orientador, Professor Doutor Justino de Magalhães, um exemplo e uma referência humana e académica. Sem a sua orientação lúcida e interessada, este trabalho não existiria. A todos os meus Professores que se mantêm uma inspiração, desde há uns anos para cá, em particular ao Professor Doutor Jorge do Ó, bem como a todos os docentes e colegas do curso de Doutoramento em Educação iniciado em 2009, pelas aulas debatidas, pelas ideias inovadoras e pelos estímulos e desafios intelectuais colocados.

Agradeço igualmente aos colegas de trabalho com quem tenho partilhado e concretizado as minhas ideias: os da Universidade de Lisboa, os do Seixal, os da BAD, os das bibliotecas públicas, os das bibliotecas escolares, os do ISPA, e tantos outros que tocam a minha vida.

Uma palavra de apreço para os responsáveis do Instituto de Educação e da Faculdade de Psicologia, pelo apoio institucional e pessoal que sempre me foi concedido na Universidade de Lisboa. Fica também uma palavra de reconhecimento aos restantes colegas e docentes desta Universidade que me acompanharam.

Agradeço finalmente àqueles que me são mais próximos, amigos-irmãos em todas as horas e à minha família de sangue e de coração. Ao Nuno, aos meus filhos Diana e Lucas, ao Tomás e ao Duarte: que grande jornada tem sido até aqui! Aos meus queridos irmãos. À minha mãe, cuja força e energia me inspiram e incitam à ação e ao meu pai, cuja confiança e serenidade são os pilares do meu otimismo, muito obrigada!

A todos vós, amigos, bibliotecários, dois últimos desejos, se me é permitido: que esta alegria possa ser sentida por cada um de vós como sua, pois ela é de facto resultado das nossas vivências conjuntas; e que possam sentir-se inspirados para prosseguir no trabalho diário ao serviço das bibliotecas e dos seus utilizadores.

Bem hajam!

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