tatiana

Por altura da entrega do Prémio Raul Proença, edição de 2013, que teve lugar na Biblioteca Nacional de Portugal no passado dia 14 de março, José António Calixto, membro da Comissão Executiva da BAD com a responsabilidade pelo Sector Editorial, fez uma breve apresentação da autora e do trabalho premiado, que a seguir se transcreve.

Snr. Diretor Geral do Livro e das Bibliotecas,

Snrª Presidente do Conselho Diretivo Nacional da BAD, cara colega,

Doutora Tatiana Sanches, nossa ilustre premiada,

Caras colegas e caros colegas,

É com prazer e alegria redobrada que cumpro a incumbência de fazer a apresentação da vencedora do Prémio Raul Proença, edição 2013, bem como do texto apresentado vencedor.

Conheço a Doutora Tatiana Sanches desde que em fui seu professor no curso de técnico de biblioteca e documentação no INETE (Instituto de Educação Técnica), uma escola que nos anos 90 formou alguns dos mais capazes técnicos intermédios que as nossas bibliotecas e arquivos conheceram. A Tatiana era uma aluna brilhante, de uma turma brilhante e entusiástica, que completou o 12º ano em 1993, numa altura em que para se ser técnico profissional (como então era designada a categoria profissional) era requerido um conjunto de competências hoje difíceis de encontrar. Eram outros tempos!

A partir desta formação a Doutora Tatiana Sanches fez um percurso académico notável,  verdadeiramente de educação permanente:

  • em 1998 licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas na Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
  • em 2000 concluiu o Curso de Especialização em Ciências Documentais, variante de Biblioteca e Documentação, na Universidade Autónoma de Lisboa
  • em 2005 fez o mestrado em Ciências da Educação – Educação e Leitura, na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa,
  • e em 2014 concluiu o Doutoramento em Educação, variante História da Educação sob a orientação de Prof. Doutor Justino Magalhães, no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa.

Notavelmente, este percurso académico foi acompanhado em paralelo com uma carreira profissional iniciada ainda em 1993 na Biblioteca Municipal do Seixal onde chegou a técnica superior de biblioteca e documentação e chefe da Divisão de Bibliotecas e Arquivo Histórico. É desde 2007 chefe da Divisão de Documentação do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa.

Deve-se notar que a Doutora Tatiana Sanches fez um percurso que além de combinar a teoria e a prática, tem como traço muito distintivo uma proximidade, muitas vezes uma sobreposição, entre o estudo e o trabalho em e sobre bibliotecas e em e sobre educação. É por caminhar sobre esta convergência que na Biblioteca do Seixal foi responsável pelo Serviço de Apoio às Bibliotecas Escolares (logo trabalhando muito proximamente com as escolas básicas e secundárias), que fez um mestrado em Educação e Leitura e, finalmente, sendo bibliotecária, um doutoramento em Educação sobre um tema de marcante atualidade e distintivo da qualidade das bibliotecas do ensino superior e não só: a literacia da informação.

Chegamos à obra premiada e ao seu tema, que neste contexto e, com os constrangimentos de tempo da ocasião, pouco mais pode ser do que referido e só muito de passagem abordado.

O trabalho que agora premiamos resulta da tese de doutoramento que a autora defendeu em 11 de Março de 2014 perante um júri que tive o prazer de integrar. Era-me pois já familiar quando no último trimestre do ano me deparei de novo com ele, agora enquanto membro do júri do Prémio Raul Proença.

A obra intitula-se O contributo da literacia da informação para a pedagogia universitária:  um desafio para as bibliotecas académicas e adota uma estrutura, que se pode dizer clássica, em três partes. A primeira intitula-se “Eixos temáticos de problematização” , a segunda “Observação e análise de práticas” e a terceira “Reflexão sobre os resultados”.

Por outras palavras, sem querer simplificar demasiado, poder-se-ia dizer que o que a autora faz é começar por apresentar um enquadramento teórico definidor de conceitos, baseada num levantamento exaustivo e crítico de literatura sobre o tema.

De seguida, recolhe um conjunto alargado de dados a nível nacional e internacional, para além de uma série de relatos sobre a situação portuguesa e uma detalhada análise de experiências locais.

Este percurso, nem sempre linear e nem sempre sustentado, conclui-se com propostas para a implementação de um currículo de literacia da informação para a Universidade de Lisboa.

Muitos de nós, arriscar-me-ia a dizer quase todos nós, principalmente os que têm os cabelos mais brancos, guardam ainda na memória as tormentas por que passávamos para ter acesso a qualquer livro ou revista nas bibliotecas das universidades portuguesas que, sem que o autor tivesse essa intenção, foram tão bem retratadas, em tudo o que de negativo tinham, por Umberto Eco, na sua famosa conferência sobre “A Biblioteca”. Tal como Eco, também alguns de nós, tiveram a felicidade de poder comparar essas nossas tristes bibliotecas com outras, do mundo anglo-saxónico, que nos pareciam – e eram – de outro mundo.

Os nossos tempos são de uma desigualdade crescente em muitos sentidos e o nosso país tem passado por tudo aquilo que nós bem sabemos e sentimos na pele. Mas o campo das bibliotecas universitárias tem inquestionavelmente dado passos notáveis no caminho da modernidade, afastando-se definitivamente do universo retratado por Eco, seja em termos de recursos de informação e seu acesso, seja em termos de edifícios e serviços, seja em termos de gestão, seja em termos de apoio aos utilizadores. A estas mudanças não é naturalmente alheia, pelo contrário, a acção de profissionais notáveis, alguns dos quais estão presentes nesta sala.

Este trabalho que hoje premiamos, esta jovem autora e  profissional, são testemunho inquestionável destas mudanças que estamos a viver, um sinal de que, apesar de todas as dificuldades e escassez de recursos, citando agora Manuel Alegre, “mesmo nos tempos mais tristes” é possível persistir e construir um futuro de esperança para as nossas bibliotecas e para o nosso país.

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