Luís CorujoO primeiro trabalho pago de Luís Corujo na área da Informação e Documentação foi como formador da BAD e aí se desenvolveu uma relação muito próxima com a associação que considera da maior importância para os jovens profissionais para “atualizar conhecimentos e partilhar experiências”. É um sócio relativamente recente e uma prova viva de como a precariedade de emprego pode dificultar o associativismo e, talvez por isso, tem ideias muito claras sobre o papel da Associação na luta pela criação de condições dignas para o exercício da atividade profissional.

Há quanto tempo é associado da BAD?
Sou oficialmente associado desde 2013.

Quais as razões que o levaram a associar-se?
Desde que iniciei a minha formação académica na área da arquivística, e juntamente com o voluntariado no Arquivo Distrital do Porto (onde se localiza a sede da BAD-Norte) que pretendi associar-me. O manancial de experiências diferentes registadas nos Cadernos BAD e nas Actas das Conferências, e ainda a troca de “know-how” dos diversos associados foram as razões que me atraíram na altura. Com o desenrolar dos anos, e com o desenrolar do meu percurso profissional surgiram outras razões, intimamente ligadas à necessidade de uma voz que representasse a profissão no seio da chamada “Sociedade Civil”, mas também que sensibilizasse as diversas estruturas de poder do papel dos documentos e da informação não só em questões da cultura, da memória, do património, mas também a nível administrativo, procedimental, ligados à garantia da transparência e da prestação de contas, que são as bases de uma Sociedade Democrática e de uma cidadania que se pretende participativa e integradora. A precariedade profissional foi sempre o maior obstáculo para ser associado, uma vez que o rendimento era incerto e só recentemente conto com um contrato de trabalho (e não de prestação de serviços) que me garante um rendimento certo mensal.

Ao longo de tempo, de que forma considera que a BAD contribuiu para a sua vida profissional?
A questão é curiosa, na medida em que a primeira remuneração que tive neste âmbito profissional, foi como formador do Curso de Formação de Técnicos Profissionais de Arquivo da BAD-Norte entre 2005 e 2006, colaboração essa que depois avançou para outras formações até muito recentemente. Por outro lado, e como já referi, os Cadernos BAD e as Conferências permitiram captar experiências e adquirir conhecimentos sobre as práticas, técnicas e realidade, que muitas vezes não transparecem em muita da produção académica desta área existente em Portugal. É de certa forma doloroso que tal produção académica seja abstrata e, em vez de tentar dar soluções para problemas fulcrais, é fomentadora de maior confusão.

Como encara o associativismo, sobretudo nos dias de hoje?
As associações profissionais são vistas, hoje em dia muito pela visão [neo]liberalizante, como estruturas de bloqueio e diabolizadas seja pela Direita, como sendo de carácter sindical, seja pela Esquerda, como herdeiras das estruturas do Estado Corporativista. A minha opinião diverge desta visão, na medida em que a consagração da especificidade e relevância do papel a nossa profissão e as condições dignas para exercer a atividade (não só condições materiais, financeiras, mas psicológicas e de reconhecimento…) são requisitos por que não podemos deixar de lutar, e para o fazer de forma consistente e sem existência de “feudos” ou “capelas”, temos que o fazer unidos nesses propósitos. Sem isso estamos condenados a desaparecer como profissão.

Que mensagem gostaria de deixar aos novos profissionais da área da Ciência da Informação relativamente ao associativismo?
Costumo perguntar aos meus alunos, assumindo o papel de “advogado do diabo”, o que (porque) estão a fazer no curso, porque dada a situação contemporânea da nossa profissão só vem para esta área quem está mesmo cativado. A dificuldade de iniciar carreira e de desempenhar funções não é fácil, mas considero um oásis para encontrar formas de actualizar conhecimentos e partilhar experiências e, de certa forma, aconselhar sobre a carreira.

Nota biográfica
Luis Crujo
, licenciado em História – ramo educacional, pós-graduado em Ciências Documentais – Variante Arquivo e Mestre em Ciências da Documentação e Informação – com especialização em Arquivística, é assistente convidado na FLUL, onde lecciona Arquivos Electrónicos e Conservação da Informação e Documentação e Técnico Superior de Arquivo na FCUL. Colabora com a Torre do Tombo desde 2006 nas áreas da Gestão Documental, Preservação Digital e Informação Electrónica, tendo prestado consultadoria nessas áreas aos Ministérios da Administração Interna, Segurança Social, Educação e Finanças e respectivos Institutos, Direcções-Gerais e Fundações. Presta ainda formação a entidades empresariais públicas e privadas e organismos da Administração Pública Local e Central, como o INA e a Presidência do Conselho de Ministros

 

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