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Natália Antónia
Apesar do calor que se fazia sentir na sala, no fim de uma tarde de verão, o debate foi morno. Por diversas razões. Destaco apenas duas.

Em primeiro lugar, porque não estiveram representados todos os partidos políticos com assento parlamentar. Faltaram os partidos (PSD e PS) que têm governado o nosso país nos últimos 40 anos. Mas agradecemos aos que estiveram, porque numa sociedade democrática todos contam de igual maneira.

Em segundo lugar, porque os profissionais (bibliotecários, arquivistas e documentalistas) não compareceram em massa, como seria de esperar. Esta ausência pode significar que não estamos muito preocupados com o futuro: o futuro das nossas profissões, o futuro das nossas instituições e o futuro da sociedade da informação. Mas também pode significar que, mesmo preocupados com o nosso futuro (e eu quero acreditar que todos estamos!), temos medo de o demonstrar, de nos implicarmos, de fazer aquilo a que vulgarmente se chama “dar a cara”.

Como arquivista fiquei triste por uma outra ordem de razões. Falou-se pouco dos arquivos, pouco ou nada sobre política arquivística e a sua importância nas sociedades ditas democráticas. Sabemos como o direito à informação, a promoção da transparência e a modernização administrativa andam de mão dada, e nós, os arquivistas, também temos uma palavra a dizer.

Verificou-se que nem todas os partidos políticos conseguem ir além de um mero elencar de generalidades. Faltou debate programático, talvez por ausência de visão estratégica para esta área ou de uma proposta política em concreto.

Algumas perguntas ficaram sem resposta:

  • Quais as medidas para a promoção de uma informação de qualidade, acessível ao cidadão e ao administrado?
  • Como promover a utilização pela Administração de sistemas com requisitos que garantam a autenticidade, fidedignidade e acesso no presente e ao longo do tempo à informação?
  • Podem desmaterializar-se processos sem se assegurar esse conjunto de requisitos, podendo colocar em causa os direitos e deveres do cidadão e das organizações?
  • Como resolver os problemas decorrentes da perda de informação e documentação, quer por estar acumulada e não identificada, quer por não serem asseguradas condições para a sua seleção e preservação?
  • Como potenciar a utilização dos dados abertos?

Também não se falou das consequências da deficiente gestão da informação para a produtividade e a competitividade das organizações no mercado global.

Num país em austeridade, como foi afirmado por alguns presentes, a cultura e os problemas da gestão informação são colocados na última fila das prioridades.

Não foi o debate sonhado, mas foi o debate possível. De qualquer maneira, devemos agradecer à BAD, a nossa associação, por ter sido audaz e organizar um debate deste tipo. Foi a pedrada no charco. Que venham mais debates! Urge refletir, discutir e sensibilizar os partidos políticos e a opinião pública para a importância das nossas profissões.

O debate provou que existe uma BAD renovada e interventiva, que precisa de todos nós para se afirmar enquanto associação de profissionais que trabalham, com mais ou menos meios, mas que também ousam e devem, cada vez mais, questionar, refletir, intervir e promover a mudança. Se nós não o fizermos, alguém o fará por nós. E não é isso que queremos, tenho a certeza!

Natália Maria Antónia
Arquivista no Arquivo Municipal de Lisboa

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