11226056_410517325804333_7561852120007987468_oNos dias 25, 26 e 27 de setembro acontecem as Jornadas Europeias do Património 2015, este ano subordinadas ao tema Património Industrial e Técnico (consulte o programa geral). Com o objetivo de sensibilizar os cidadãos para o seu valor e para a importância de um olhar atualizado acerca das suas potencialidades e do seu futuro, neste ano em que se comemora o Ano Europeu do Património Industrial e Técnico.

O objeto de estudo do património industrial e técnico é múltiplo, considerando-se as várias áreas produtivas e as diversas soluções construtivas. Assim, podemos afirmar que o património industrial trata dos vestígios técnico-industriais, dos equipamentos técnicos, dos edifícios, dos produtos, dos documentos de arquivo e da própria organização industrial. Na sequência o Património Industrial e Técnico é uma parte do Património Cultural, e neste sentido urge promover a preservação de registos documentais, arquivos públicos e empresariais, plantas de edifícios, assim como exemplares de produtos industriais e estruturas físicas.

Deste modo, os Museus Industriais e Técnicos, assim como os sítios industriais preservados e musealizados, constituem meios importantes de proteção, salvaguarda, valorização e interpretação do Património Industrial e Técnico[i]. Neste contexto apresentamos alguns exemplos de Museus Industriais e Técnicos em Portugal que perseguem esta missão tão essencial de preservação da memória e construção do futuro das próximas gerações que nascem a partir da iniciativa de empresas, universidades ou criados por entidades na administração central, regional ou local.

Museus industriais de iniciativa empresarial

Com origem em grandes empresas, são diversos os exemplos bem sucedidos de preservação da história empresarial e do património a ela associado. Destacamos o Museu das Comunicações com exposições permanentes e temporárias dedicadas à temática das Comunicações, a par da Biblioteca e Arquivo que integram todo o património documental da Fundação Portuguesa das Comunicações.

Para contar a história do caminho de ferro em Portugal, a Fundação Museu Nacional Ferroviário integra vários núcleos museológicos abertos ao público e com a sede do Museu Nacional Ferroviário no Complexo Ferroviário do Entroncamento. O acervo museológico é constituído por cerca de 36000 objetos relacionados com o património ferroviário em Portugal.

Museus industriais de iniciativa universitária

O Museu de Lanifícios constitui um Centro da Universidade da Beira Interior e foi inaugurado em 1992, tendo sido criado com o propósito de salvaguardar a área das tinturarias da Real Fábrica de Panos, fundada pelo Marquês de Pombal em 1764. Integra atualmente outros núcleos museológicos, é membro da Rede Portuguesa de Museus desde 2002, etem por missão a salvaguarda e a conservação activa do património industrial têxtil, assim como a investigação e a divulgação da tecnologia associadas tanto à manufactura como à industrialização dos lanifícios.

As coleções deste museu são das mais antigas e representativas da Ciência em Portugal reunindo as coleções do Laboratorio Chimico, e de outros locais e equipamentos como Gabinete de História Natural, Gabinete de Física, Teatro Anatómico, o Dispensatório Farmacêutico, o Observatório Astronómico ou o Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. O Museu da Ciência da Universidade de Coimbra é um museu interactivo de ciência que procura dar a conhecer a ciência a públicos de todas as idades, a partir das colecções de instrumentos científicos da Universidade de Coimbra. Em 2006 com a requalificação e inauguração do Laboratorio Chimico completa-se a primeira fase do museu, prevendo-se a reabilitação do edifício do antigo Colégio de Jesus, na segunda fase do projeto que está já em preparação.

Ao Museu Nacional de História Natural e ao Museu de Ciência da Universidade de Lisboa sucede, desde julho de 2012, o atual Museu Nacional de História Natural e da Ciência que tem como missão promover a curiosidade e a compreensão pública sobre a natureza e a ciência, aproximando a Universidade à Sociedade. Integra as colecções dos anteriores museus, os antigos edifícios da Escola Politécnica, o Jardim Botânico de Lisboa e o Observatório Astronómico de Lisboa. A Unidade Museus da Universidade de Lisboa integra para além das coleções, biblioteca e arquivos históricos, um importante património histórico e científico integrado: o edifício principal do museu, o Laboratorio Chimico, o Jardim Botânico, o Real Picadeiro, a Sala de Leitura e a Biblioteca e o Observatório Astronómico de Lisboa.

Museus industriais de iniciativa da administração regional/central

Localizado na antiga Fábrica da Baleia da Sociedade das “Armações Baleeiras Reunidas, Limitada”, construída em 1942, o Museu da Indústria Baleeira retrata a importância que a actividade da Caça à Baleia imprimiu na Ilha. Este museu é considerado como um dos melhores museus industriais do género, exibindo  caldeiras, fornalhas, maquinaria e outros apetrechos usados no aproveitamento e transformação dos  cetáceos em óleo e farinha.

No Museu do Ar encontram-se reunidos mais de 40 aviões e helicópteros, simuladores, motores, hélices e outros equipamentos aeronáuticos. O aumento do acervo impulsionou a abertura de um novo espaço em Sintra em 2009. A exposição transporta o visitante numa viagem de mais de 100 anos pela História da Aviação em Portugal.

Museus industriais de iniciativa autárquica

O Ecomuseu Municipal do Seixal (EMS) tem por missão investigar, conservar, documentar, interpretar, valorizar e difundir testemunhos do Homem e do meio, reportados ao território e à população do Concelho, com vista a contribuir para a construção e a transmissão das memórias sociais e para um desenvolvimento local sustentável.
O EMS tem uma estrutura territorial descentralizada, integrando 8 sítios, 5 núcleos museológicos e 3 extensões. Como tal, apresenta um vasto acervo museológico e um património muito diversificado.

A musealização da Central de Compressores da Mina de Algares foi uma iniciativa do Município de Aljustrel. Instalado num edifico dos anos 50, este núcleo museológico é um importante testemunho da actividade mineira no século passado, sobretudo de um tipo de actividade em que eram usados equipamentos accionados a ar comprimido, hoje substituídos por equipamentos electro-hidraúlicos. O Malacate do Poço Viana foi intervencionado e é hoje um interessante percurso mineiro, colocando ao dispor fotografias e textos com explicações histórica, geológica e ambiental.

O Museu do Trabalho Michel Giacometti abriu as portas ao público em 1995, com o intuito de albergar a coleção etnográfica, reunida em 1975 por jovens alunos do Serviço Cívico Estudantil, no âmbito do plano de Trabalho e Cultura sob a supervisão do homem que o fundou.  Destacamos neste museu, as seguintes exposições permanentes: “A Indústria Conserveira (Da lota à lata)”, “Mundo Rural – Coleção Etnográfica Michel Giacometti e a Génese do Museu” e “Mercearia Liberdade – Um património a salvaguardar”.

Museu do Ferro & da Região de Moncorvo é uma instituição museológica e cultural destinada a promover o conhecimento e a divulgação do património arqueológico e industrial do território, dos povoados e das comunidades que se formaram nas cercanias da serra do Reboredo e do Vale da Vilariça, com particular destaque para as actividades relacionadas com a exploração do Ferro.

O Museu da Cerâmica de Sacavém dedica-se ao ao estudo da história e da produção da Fábrica de Loiça de Sacavém e do património industrial do concelho de Loures, desenvolvendo projetos expositivos nesse âmbito.

O Museu de Portimão está localizado na centenária fábrica de conservas de peixe Feu Hermanos, situada na zona ribeirinha da cidade. Assume-se como um Museu de Sociedade, Identidade e Território, assentando o seu programa museológico em quatro pontos essenciais: 1) Reabilitar o património histórico-industrial; 2) Valorizar a relação da Cidade com o Rio; 3) Interpretar e divulgar a evolução histórica, territorial e social da comunidade e 4) Potenciar a formação e fruição de novos públicos, desenvolvendo uma oferta cultural de qualidade.

Os bons exemplos de museus dedicados ao património industrial e técnico não se esgotam naqueles que vos apresentámos e são muitos aqueles que podemos encontrar integrados e divulgados a partir de redes de cooperação como a Rede Portuguesa de Museus, a Rede Indústria História e Património ou na página do Roteiro dos Museus da Energia que vos convidamos desde já a consultar ou ainda a partir dos sítios web das próprias instituições.

Para saber mais deixamos também a referência a dois trabalhos recentemente publicados que poderão servir como ponto de partida para o conhecimento do Património Industrial e Técnico em Portugal:

MATOS, Ana Cardoso de; SAMPAIO, Maria da Luz – Património Industrial e Museologia em Portugal. Revista Museologia & Interdisciplinaridade. V. 3, n. 5 (2014), p. 95-112.

MENDES, José Amado – O património industrial na museologia contemporânea: o caso Português. Ubimuseum – Revista online do Museu de Lanifícios da Universidade da Beira Interior. N.1 (2012), p. 89-104.

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[i]

http://ticcih.org/xvith-international-ticcih-congress-2015-lille-6-11-september-2015-call-for-papers-by-23-june-2014/

«Under the title “Industrial Heritage in the Twenty-First Century, New Challenges”, the sixteenth TICCIH Congress to be held at Lille and in its region in 2015 aims to give a general, world-wide review of the present-day state of industrial heritage, opening up new perspectives on the people involved in it, its achievements and its recognition. Much effort is still necessary to give industrial heritage the social recognition it deserves, but the Congress will show how, throughout the world, it is a heritage that can make contributions where contemporary demands are concerned, in terms of sustainable development, urban regeneration, architectural invention, local economies, culture and education. The role of the citizen and the part that citizens can play will be at the heart of our approach. We keep this heritage because it means something to us and we want to keep that meaning for future generations. But what precisely does the industrial heritage mean to today’s societies? What importance do these societies attach to industrial heritage? What influence can industrial heritage have on the way societies evolve?»

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