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  • 12º Congresso Nacional BAD – Conclusões

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CONCLUSÕES

Documento apresentado na sessão de encerramento do congresso:

Quisemos neste 12º Congresso Nacional BAD provocar um olhar atento sobre os sinais e as transformações das nossas instituições e profissões, refletindo sobre os desenvolvimentos técnicos e analisando as interações com a comunidade e procurando ainda capitalizar as boas práticas e as iniciativas de revalorização e recriação dos nossos serviços.

Dos trabalhos apresentados e discutidos no 12º Congresso BAD salientamos desde já as seguintes conclusões e recomendações:

 

 

1 – Serviços e criação de valor

Reconhece-se a necessidade e relevância de divulgar, atualizar e capacitar os profissionais das bibliotecas públicas para trabalhar a missão social da biblioteca. Que os profissionais tomem consciência sobre o paradigma de uma biblioteca mais social e que reconheçam as facetas da missão social da sua profissão.

É necessário promover as transformações dos serviços a prestar pelas bibliotecas públicas, no sentido de os adequar aos desafios que a sociedade hoje exige, centranto a ação nos leitores e não nas coleções e investindo estrategicamente em parcerias com diferentes agentes, proporcionando partilha de custos, recursos humanos e de gestão.

As atividades de formação e literacia da informação na comunidade académica assumem-se atualmente como uma tarefa prioritária e estratégica para as bibliotecas de ensino superior e investigação, sendo primordial reafirmar, junto dos responsáveis institucionais, a importância da creditação de competências de literacia da informação, incluindo nos curricula dos cursos nos diferentes ciclo de ensino iniciativas que promovam essas competências.

Multiplicam-se as iniciativas relevantes focadas na recuperação da memória e património local e regional, assumindo-se como projetos de significativo impacto e visibilidade, estruturados a partir de trabalho colaborativo com parceiros locais e regionais, que consequentemente promovem valorização do serviço prestado e da imagem do profissional que o presta.

É visível a crescente preocupação dos serviços de Bibliotecas e Arquivos com a divulgação dos projetos desenvolvidos junto das comunidades locais, particularmente com a difusão dos conteúdos produzidos ou salvaguardados e sua posterior dinamização, práticas tidas como fulcrais para o sucesso e manutenção desses projetos.

Considera-se necessário conceber serviços de apoio à gestão de dados científicos, alicerçados em planos de intervenção estratégica para atuação institucional que respondam às necessidades da gestão dos dados gerados e recolhidos na atividade dos investigadores.

 

2 – Ecossistemas de informação e plataformas de colaboração

O Congresso salientou a necessidade de promover a definição e implementação de políticas públicas que permitam incrementar a qualidade dos sistemas, redes, serviços e produtos informacionais, recomendando-se o envolvimento da comunidade profissional e dos organismos de coordenação na adequação e atualização do corpo legislativo nacional no setor da Informação.

Acentuou-se a necessidade de promover e implementar normas e referenciais que permitam qualificar a gestão dos referidos sistemas e serviços e informação. Nesse sentido, sublinhou-se, em primeiro lugar, uma especial preocupação com a adoção de normas na área da segurança e certificação de repositórios digitais, para garantir o acesso a longo prazo à informação digital. Salientou-se ainda, ao nível da gestão, a necessidade de promover a difusão e adoção nacional de normativos que responsabilizem as lideranças das organizações pela boa gestão da informação à sua guarda (a exemplo das normas da família ISO 30300, para documentos de arquivo que façam prova da atividade organizacional e comprovem direitos e deveres do cidadão).

Os profissionais da informação devem ainda continuar a acompanhar o processo de renovação das normas e referenciais, a nível internacional e investir no reforço da sua adoção no contexto nacional, desenvolvendo comunidades de prática e um esforço de diálogo entre estas, particularmente em torno de áreas de convergência profissional.

Num contexto onde se destaca a crescente necessidade de abordagens transversais e colaborativas no domínio da gestão da informação, salientaram-se algumas experiências nacionais que devem ser apoiadas e valorizadas, sobretudo pelo seu potencial de replicação e capacidade de resposta às necessidades de interoperabilidade. Entre essas experiências, contam-se os projetos transversais das bibliotecas do ensino superior, de grande impacto a nível nacional, a exemplo do desenvolvimento de repositórios de acesso aberto e agregadores de conteúdos. Uma nota ainda para a aposta do organismo de coordenação dos arquivos em projetos suprainstitucionais de estruturação e avaliação da informação pública ou em projetos que envolvem várias comunidades de práticas na procura de soluções consertadas de preservação do património digital.

Salientou-se ainda a necessidade dos profissionais da informação desenvolverem a sua intervenção tendo como especial foco a resposta às necessidades do seu cliente-cidadão, de modo a realçar socialmente o valor do serviço que presta.

No domínio da preservação digital é reforçada a importância da utilização de standards e da definição de políticas, começando desde logo pela definição do tipo e âmbito dos conteúdos a preservar, até à definição de uma estratégia de longo prazo, sendo central a conceção dos processos envolvidos na preservação digital.

Configura-se ainda difícil o cálculo de custos dos processos de preservação digital, embora existam ferramentas recentes que apoiam já esse cálculo, sendo relevante a importância da cooperação entre instituições, com vista à exploração de sinergias e à partilha de recursos e responsabilidades.

O desafio tecnológico de gestão de grandes conjuntos de dados devidamente normalizados deverá assumir relevância na estratégia de gestão de informação a desenvolver pelos organismos competentes.

 

3 – Gestão e transformação de saberes e práticas

O desenvolvimento das iniciativas relevantes no domínio da Literacia de Informação reforçam a importância do desenvolvimento de competências técnicas e pedagógicas dos profissionais das Bibliotecas e da importância de criar planos estratégicos nesta área, sendo necessário destacar a importância do estabelecimento de parcerias com os docentes e outras estruturas de apoio ao ensino e aprendizagem, particularmente junto dos responsáveis de topo na organização.

Os profissionais das Bibliotecas e Arquivos devem envolver-se no trabalho de Gestão e curadoria dos dados de investigação, com o objetivo de assegurar a preservação desse património da investigação científica que é o produto para o pensamento, a comunicação e reprodutibilidade da ciência.

Os profissionais da informação necessitam de olhar de forma integrada os desafios da gestão de dados, procurando transformar saberes e práticas, assumir transversalidade nas funções desempenhadas, adquirir competências de especialistas de dados e envolver-se em atividades de suporte à curadoria de dados.

Considera-se importante não perder o capital de conhecimento que nos foi legado através de estudos bibliométricos e qualitativos sobre a profissão e profissionais.

Avaliar políticas de disponibilização e acesso da informação científica em diferentes formatos e o seu impacto na qualidade dos conteúdos produzidos na área das ciências da informação.

Estimular a participação dos profissionais da informação nacionais em projetos de investigação e implementação nos domínios dos dados abertos, big data e LOD – Linked open data, etc.

É necessário aprofundar comunidades de prática e redes de colaboração entre profissionais e instituições que desenvolvam iniciativas para gerar parcerias institucionais e valorizar boas práticas.

É necessário promover um trabalho de âmbito nacional para refletir e traduzir as tendências da IFLA.

 

4 – Promoção, integração e cidadania

O desenvolvimento de competências de informação representa uma componente muito relevante do trabalho das bibliotecas do Ensino Superior num trabalho colaborativo entre bibliotecários e professores. Este trabalho visa dotar os alunos de todos os ciclos com as competências necessárias a um bom desempenho académico e faz uso de diversos métodos com grande enfoque nas tecnologias. Os dados apresentados sugerem efeitos muito positivos no desempenho e contribuição decisiva para o sucesso académico. Recomenda-se o aprofundamento e generalização deste trabalho no domínio da literacia da informação, procurando estabelecer áreas de colaboração com bibliotecas escolares e públicas.

As bibliotecas públicas continuam a ocupar parte substancial das suas energias e dos seus recursos na promoção da leitura. Investigação recente sugere a existência de conceções diversas e alguma indefinição conceptual sobre a promoção da leitura. Torna-se por isso necessária a construção de mais conhecimento através de estudos empíricos visando uma teoria da promoção da leitura nas bibliotecas públicas e escolares.

As bibliotecas de todas as tipologias são instrumentos de combate às barreiras ao acesso e uso da informação. Estas barreiras são de vária ordem, entre elas deficiências físicas, distância e horários de abertura e as respostas podem ser muito diversificadas, com destaque para a oferta de serviços de proximidade junto das populações. É recomendada a divulgação das experiências neste sentido e estabelecimento de parcerias com outras entidades e organizações com intervenção local, e a utilização desta informação para trabalho de advocacy.

O género tem marcado as profissões de informação com grande predominância sexo feminino, o que não se tem refletido nas relações de poder e nos cargos de gestão superior. Será interessante promover o desenvolvimento dos estudos de género nas diversas circunstâncias profissionais. Salientou-se igualmente a importância de estudos sobre o contributo das bibliotecas para combater a discriminação social e promover a integração social, compreendendo melhor o papel que as bibliotecas podem desempenhar neste campo.

O frágil equilíbrio entre a privacidade, o direito de acesso à informação e a segurança individual e coletiva tem sido fortemente desafiado com o desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação. Os profissionais de informação têm sido defensores ativos do livre acesso à informação como um direito democrático fundamental.

A legislação sobre bibliotecas protege-as contra a perda do que precisam para cumprir as suas responsabilidades, ajuda a definir os seus fins em mudança permanente, ajuda a preservar os serviços das bibliotecas em tempos difíceis, ajuda a assegurar a homogeneidade do serviço em todo o país, ajuda a manter os serviços a um nível em que o princípio democrático de livre acesso à informação e a liberdade de expressão possam ser garantidas. Portugal é um dos poucos países (em conjunto com Áustria, Chipre e França) que não têm legislação sobre bibliotecas, recomendando-se uma ação permanente no sentido de levar à produção de legislação neste campo.

A advocacy é um trabalho para todas as instituições e organismos e é claramente um dos papéis mais relevantes a desempenhar por uma associação profissional e visa transformar apoio passivo em ação educada das partes interessadas. Todos os profissionais e em especial a sua associação deverão colocar a advocacy como uma das suas prioridades a fim de garantir a necessária atenção social e política. Como ponto de partida os profissionais devem reconhecer a necessidade de se educarem a si mesmos em advocacy.