TEMÁTICA

Sustentabilidade e Transformação

 

 

É sob o lema Sustentabilidade e Transformação que os profissionais da informação e documentação se reúnem, em outubro de 2018, na cidade do Fundão, no seu 13.º Congresso Nacional.

 

Nesta incursão pelo interior do país, num momento em que a Agenda 2030 e as questões da sustentabilidade definem a estratégia e a operacionalização das políticas transversais, projetando a necessidade da transformação global, os profissionais integram nas suas práticas estes objetivos e apresentam-nos à comunidade.

 

Num equilíbrio, necessariamente difícil e exigente, entre recursos e objectivos, entre assegurar o futuro sem comprometer o presente, a sustentabilidade exige uma abordagem inovadora, orientada para as soluções. Soluções essas que devem ser efetivas, resilientes e justas, sem nunca perder de vista as pessoas que as constroem e aquelas a quem se destinam. No campo da Informação e Documentação, a sustentabilidade entre as dimensões técnica e humana favorece uma cultura de partilha dos recursos e do conhecimento, o incremento das capacidades de pesquisa e o desenvolvimento de um espírito crítico, que reforçam a cidadania, a autonomia dos indivíduos e o seu potencial transformador.

 

A sustentabilidade desejada jamais será alcançada sem uma profunda e complexa mudança.

 

Numa sociedade cada vez mais conectada, e quando as dinâmicas sociais, culturais, económicas e políticas são cada vez mais influenciadas pela transformação digital, urge reflectir sobre o seu impacto na alteração de processos e de procedimentos que afetam a vida dos cidadãos e das organizações. Se aceitarmos que a tecnologia tem uma presença cada vez maior na vida dos profissionais, e dos demais cidadãos, temos de considerar que a transformação, associada à criatividade e à experimentação, conduzirá a uma alteração de mentalidades e à mutação das práticas profissionais e dos modos de interação com os cidadãos.

 

Sustentabilidade e transformação apresentam-se como duas forças atuantes no cenário profissional, sendo que, se por um lado condicionam todos os intervenientes a repensar e alterar a sua ação, por outro abrem um conjunto de possibilidades que perspectivam uma maior afirmação e relevância junto da sociedade.

 

O tema genérico é aprofundado nestas quatro linhas temáticas:

Memória, Património e Ciência Aberta

– Acesso aberto, dados abertos, ciência cidadã

– Identidade, evidências, preservação

– Conhecimento, humanidades digitais

– Indicadores, métricas

Falar em memória coletiva é falar de identidade social. É pensar numa ideia de construção e de um património que se transmite. Mas, sem preservação, sem evidências, não se projeta o futuro nem se assegura o presente.

 

A discussão em torno do acesso aberto e dos dados abertos, associada à transferência do conhecimento científico para a sociedade e para as empresas, constitui um estímulo para os processos de inovação, reforça o impacto social da investigação, concorre para a valorização e reconhecimento de quem intervém nestes processos, torna a ciência mais acessível, e representa um desafio político, cultural, económico e social a que os profissionais de informação não se podem furtar.

 

As humanidades digitais congregam métodos e ferramentas das novas tecnologias que permitem a colaboração interdisciplinar e o envolvimento de investigadores e docentes das diferentes áreas do conhecimento. As plataformas digitais permitem a divulgação e publicação de resultados e, simultaneamente, oferecem a possibilidade de crítica, construção e distribuição do conhecimento, contribuindo para o avanço da investigação.

 

A aplicação de indicadores e métricas na avaliação das organizações e dos indivíduos constitui uma oportunidade para os profissionais de informação. Pretende-se refletir sobre de que modo os profissionais de informação podem dar resposta a questões técnicas neste domínio, implementar a análise bibliométrica e dar a conhecer as diversas ferramentas analíticas de produção científica e das práticas, bem como apoiar os decisores políticos em matéria de políticas de gestão, de património e de ciência, a nível nacional e internacional.

 

Ter documentos autênticos, acessíveis, inteligíveis e mensuráveis, no longo prazo, é um desafio. Repositórios confiáveis constituem a resposta? Estão os profissionais dotados de competências para uma realidade em mutação? Em que projetos estão envolvidos? Que políticas públicas temos nestes domínios? Como transpor o quadro normativo europeu para a realidade portuguesa? Que projetos da comunidade europeia estão ao nosso alcance?

Redes, Comunidades e Literacias

– Cidadania, diálogo intercultural, inclusão

– Aprendizagem, competências digitais, métricas

– Redes de arquivos, redes de bibliotecas, redes na comunidade

Cidadania, aprendizagem, inclusão, comunidade(s), literacias e competências digitais, ancoradas nas exigências da sustentabilidade, são conceitos que identificam algumas das tendências dominantes de desenvolvimento das bibliotecas e dos arquivos para a próxima década.

 

Garantes da memória e do direito à cidadania, à informação credível e ao conhecimento, arquivos e bibliotecas reescrevem-se como lugares de encontro e diálogo, criação e inovação, aprendizagem permanente, e construção de comunidades, presenciais e à distância. Num mundo em rede, é em rede e em redes abertas ao exterior que as unidades de informação vão poder crescer e desenvolver-se, apoiando os cidadãos na aquisição de mais e melhor capital social, intelectual, cultural e económico.

 

São vastas as questões que concorrem neste eixo temático: Como funcionam as redes de bibliotecas e arquivos em Portugal? Que projetos são desenvolvidos, e como se perspetiva a sua evolução? Estão a ser construídas novas alianças entre as redes institucionais e as comunidades, na diversidade das suas próprias redes sociais? Que serviços para a inclusão social e o diálogo intercultural? Como participam as bibliotecas e os arquivos no aprofundamento e no exercício da cidadania? Como contribuem para a capacitação, num mundo onde as competências digitais constituem uma nova base para as literacias? Estão as novas bibliotecas e arquivos a ser concebidos como espaços de aprendizagem e experimentação? Detetam-se mudanças no impacto social dos seus serviços? Que novas experiências podem ser relatadas na construção de comunidades a partir dos serviços de informação e acesso ao conhecimento?

Direito à Informação

– Profissão, regulação

– Proteção de dados, privacidade, partilha, armazenamento de conteúdos

– Direito ao esquecimento

– Liberdade de expressão, censura

– Direito de autor

O direito à informação integra um conjunto dinâmico de interesses contraditórios e de vertentes legais, técnicas, tecnológicas e culturais, sobre o qual importa alcançar conhecimento que suporte práticas profissionais visando o bem comum. Acervos arquivísticos, bibliográficos ou museológicos, frequentemente relacionados entre si, são por vezes negligenciados, alvo de censura, roubo ou destruição, condicionando a comprovação de direitos, o cumprimento de deveres, a produção de saber e a criatividade.

 

Em que medida os códigos de ética orientam as profissões de arquivista, bibliotecário e outros profissionais da informação? Faz sentido regular mais o exercício profissional? De que formas?

 

Até que ponto se alterou a noção de privacidade e como é que esta se salvaguarda, em contexto nacional e transfronteiriço, em particular europeu, atendendo ao cruzamento exponencial de dados com finalidades diversas? Como armazenar e partilhar tecnologicamente conteúdos necessários ao equilíbrio das sociedades, sem pôr em risco o indivíduo? Quais as implicações do Regulamento (UE) 2016/679 sobre o tratamento e livre circulação de dados pessoais?

 

De que modos entender e conciliar o direito ao esquecimento ou ao apagamento dos dados e a liberdade de expressão no interesse público? Que estudos e experiências existem de comunicação de informação considerando o direito de autor e direitos conexos?

Tecnologia e Infraestrutura

– Reutilização, padrões, reprodutibilidade (de software, de dados, de tipos de conteúdo)

– Integrações entre sistemas, mudança de ambientes (técnicos), fusão de distribuidores de conteúdos

– Software aberto, software proprietário

– Interoperabilidade, segurança da informação

A incorporação de novas tecnologias nos processos de gestão de informação é uma vocação permanente das bibliotecas e arquivos. Expandir as infraestruturas e as funcionalidades dos sistemas em uso nas instituições, promover a aplicação de padrões e normas que amplifiquem o potencial dos serviços, e assegurar o alinhamento de técnicas e práticas com diretrizes internacionais, configuram-se como desafios permanentes às infraestruturas de informação e à ação dos serviços de documentação. Para as instituições portuguesas torna-se ainda mais relevante garantir que a integração das novas tecnologias, a atualização dos sistemas ou a incorporação das melhores práticas e padrões nos processos de trabalho se faz com custos reduzidos e explorando o melhor potencial para servir os utilizadores.

 

Quais os desenvolvimentos mais significativos em curso nas infraestruturas de informação em Portugal? Que projetos e boas práticas têm as bibliotecas e os arquivos para promover mais interoperabilidade e melhor integração de sistemas? Como se tem vindo a assegurar, nos diferentes sistemas e ferramentas de gestão de informação, mais acessibilidade à informação, com segurança e confiabilidade e no respeito pela privacidade? Que estudos e investigações refletem sobre os desafios da gestão de dados, segurança da informação e distribuição de conteúdos? Que práticas e técnicas têm contribuído para melhorar os processos da gestão de informação nas organizações e aperfeiçoar a comunicação das bibliotecas e arquivos em Portugal?