Alessandra Sampaio, Ana Beatriz Giacomini, Juliana Monteiro, Luciane Santesso,Mariana Esteves Martins, Tatiana Chang Waldman, Thaís Klarge [1]

Coleção museológica.© Thâmara Malfatti, 2015.
Coleção museológica.© Thâmara Malfatti, 2015.

O Museu da Imigração, sediado na cidade de São Paulo, tem como missão “promover o conhecimento e a reflexão sobre as migrações humanas, numa perspectiva que privilegie a preservação, comunicação e expressão do patrimônio cultural das várias nacio­nalidades e etnias que contribuem para a diversidade da formação social brasileira”. Localizado no edifício onde funcionou por 91 anos a Hospedaria de Imigrantes do Brás, que tinha por principais objetivos receber, acolher e encaminhar para postos de trabalho imigrantes e migrantes vindos de diversas regiões do Brasil, o Museu tem uma condição privilegiada de poder tratar da experiência de migrar em um espaço que por si só suscita memórias e provoca paralelos entre experiências do passado e do presente.

A história dessa instituição foi marcada por diversas mudanças de vínculo, escopo e denominação. Entre 2010 e 2014 o museu passou por um amplo processo de restauro do edifício – o que ocasionou o seu fechamento – e de reposicionamento institucional, com a elaboração de um novo plano museológico. As principais alterações se deram na abordagem do tema da imigração, que implicam diretamente nas pesquisas e ações preservacionistas – como a ampliação do recorte temporal de atuação para além da história da Hospedaria do Brás, a consideração dos fluxos migratórios internos e o protagonismo a experiências, mais que a histórias de poucos grupos ou personalidades, – na relação com públicos e nos partidos que norteariam as exposições e a programação.

2. Acervos, acervo: ações em andamento

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Coleção bibliográfica. ©Daniel Quirino dos Santos, 2015.

Diante desse contexto apresentado na introdução, cabe levantar algumas das ações e desafios relativos ao acervo do Museu da Imigração. O acervo do Museu da Imigração é formado pela coleção bibliográfica, museológica, de história oral, e é resultado do período de vinte anos de atuação da instituição. Desse tempo, traz também seu arquivo institucional, relacionado à formação do acervo e à história da instituição.

A coleção bibliográfica é especializada em mobilidade humana e áreas correlatas. Sua composição deu-se por meio de compras e doações feitas por pessoas físicas (pesquisadores, descendentes de imigrantes e migrantes que passaram pela Hospedaria, etc.) e pessoas jurídicas. Atualmente, o conjunto conta com cerca de 10.000 itens entre livros/obras raras, periódicos, folhetos, mapas, teses, apostilas, catálogos, programas culturais, cartazes, fotos, CD-Roms, DVDs, VHSs, discos em vinil, bitolas de filmes, hemeroteca.

Coleção bibliográfica. ©Daniel Quirino dos Santos, 2015.
Coleção bibliográfica. ©Daniel Quirino dos Santos, 2015.

A coleção museológica é composta por cerca de 12.000 itens, divididos em três núcleos básicos: o primeiro, inclui parte do mobiliário que pertenceu à Hospedaria de Imigrantes do Brás e a outros órgãos que funcionaram no local; o segundo, reúne objetos doados por famílias de migrantes, por meio de campanhas de doação promovidas para a inauguração da instituição; o terceiro, agrupa peças adquiridas por doações espontâneas de particulares. É uma coleção heterogênea, com maquinário, objetos pessoais, fotografias, documentos textuais, brinquedos, indumentária, entres outros.

No momento, a equipe tem priorizado a identificação de aspectos relacionados à conservação e a organização da documentação dessas duas coleções. A expectativa é compreender a totalidade dos conjuntos, ampliando seus significados e características atribuídas. Nesse sentido, um dos projetos desenvolvidos pelo Museu é o intitulado “Conhecendo o acervo”, que pretende, em parceria com as comunidades migrantes, promover a discussão e reflexão específica dos objetos museológicos e auxiliar na sua (res)significação e na identificação de potenciais lacunas na coleção. Esse trabalho também visa a reorganização física dos objetos museológicos e materiais bibliográficos em suas respectivas áreas de guarda, permitindo a avalição do estado de conservação dos itens a consolidação de dados para a elaboração do Plano de Gestão do Acervo (que inclui também as outras coleções).

Coleção museológica.© Thâmara Malfatti, 2015.
Coleção museológica.© Thâmara Malfatti, 2015.

Já a coleção de História Oral do Museu da Imigração é composta por mais de 400 depoimentos gravados. A História Oral de Vida e a História Oral Temática são as vertentes adotadas pela instituição: a primeira com o intuito de registrar as experiências de vida individuais de imigrantes, e a segunda, visando elucidar questões e dúvidas do contexto histórico relacionado à experiência de migrar. Algumas das entrevistas estão disponíveis ao público na exposição de longa duração: “Migrar: experiências, memórias e identidades”; outras, poderão ser consultadas com a futura inauguração do Centro de Preservação, Pesquisa e Referência (CPPR). Agora o setor de História Oral está sendo reorganizado, com o intuito de recatalogar o que foi produzido, para aprimorar o acesso a esses depoimentos, e consolidar projetos voltados para o contexto migratório contemporâneo.

Novas parcerias estão sendo feitas para aproximar as ações do Museu dessas novas comunidades. Concursos culturais e oficinas com populações refugiadas e imigrantes, rodas de conversas reunindo pessoas com experiência ou interesse sobre a questão migratória para trocar ideias e iniciativas, visitas de imigrantes e refugiados ao Museu, parcerias com entidades atuantes na área como o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), o Arsenal da Esperança, a Associação Cidade Escola Aprendiz com seu Projeto “Trilhas da Cidadania – A língua portuguesa pela cidade”, o Instituto de Reintegração do Refugiado (Adus) e a organização Eu Conheço Meus Direitos (IKMR). A proposta é estreitar cada vez mais as relações com os que hoje são protagonistas da experiência de migrar, enriquecendo o importante diálogo entre o passado e o contemporâneo em um espaço de importância ímpar para o debate do que foi e o que é a imigração na cidade e no estado de São Paulo.

 

3. Considerações finais: desafios de gestão para o Museu da Imigração

Considerando o cenário exposto e a diversidade das coleções e ações em andamento do Museu, uma questão central que se coloca é relativa ao que a instituição vai preservar daqui em diante. A reflexão sobre esse ponto é complexa e com muitas nuances, podendo ser traduzidas em algumas perguntas que tem norteado os trabalhos atuais: de que modo o Museu da Imigração vai colecionar e registrar esse processo migratório que envolve a cidade e o Estado de São Paulo, que é dinâmico e não se esgotou com o encerramento das atividades da antiga Hospedaria? Quais são as linhas de pesquisa que poderão auxiliar na interpretação desse acervo e da conjuntura migratória? Como vai estruturar sua política de acervo, prevendo essa relação direta com a contemporaneidade? E ainda, que parcerias serão consideradas estratégicas – em termos acadêmicos, sociais e financeiros – para expandir e sustentar a atuação desejada para o Museu? São esses os desafios de gestão de acervo, traduzidos neste breve texto, mas que apontam para um universo de ações, estratégias e metas de médio, curto e longo prazos.

Acervo digital disponível para consulta pelo site do Museu da Imigração.
Acervo digital disponível para consulta pelo site do Museu da Imigração.

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[1] Membros da equipe técnica do Museu da Imigração do Estado de São Paulo, cujos cargos, respectivamente, são: Analista Pleno em Biblioteconomia; Analista Pleno de Conservação; Analista Sênior de Preservação; Analista Pleno em Documentação Museológica; Coordenadora técnica; Analista de Relações Institucionais e Analista Pleno em Pesquisa.

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