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Foto de Alexandra Fonseca
No passado sábado, dia 9 de Maio, decorreu no Cineclube de Faro uma conferência subordinada ao tema “Arquivos audiovisuais: Situação actual e desafios da preservação do património audiovisual nacional”, proferida por Hilário Lopes do Arquivo da RTP e do Grupo de Trabalho de Arquivos Audiovisuais (GTAA) da BAD. Este evento resultou da parceria entre o projecto Entre Arquivos e o Cineclube de Faro.

O orador, Hilário Lopes, estruturou a sua apresentação em quatro grandes eixos: inventariação, conservação, preservação, tratamento documental e, por fim, as conclusões e desafios. Esta comunicação resultou do estudo de diagnóstico aos arquivos audiovisuais em Portugal, que foi levado a cabo pelo GTAA da BAD, cujo método de recolha baseou-se em inquéritos por questionário aos arquivos audiovisuais em Portugal, no período compreendido entre 1 de Junho e 15 de Julho de 2012. O inquérito era constituído por 32 questões, abertas e fechadas, e o âmbito da amostra circunscreveu-se às imagens em movimento e ao som, não incluindo as fotografias.

Este estudo permitiu constatar que nenhuma instituição possui um técnico exclusivamente dedicado ao arquivo audiovisual, sendo que em termos médios, verifica-se a existência de dois a três colaboradores dedicados a estas questões, constituindo apenas excepção os arquivos dedicados exclusivamente ao audiovisual. No que concerne às políticas, procedimentos e normativas orientados a esta tipologia de arquivos, 59% afirma não possuir qualquer documentação relativa ao tratamento e gestão deste património. Quanto às condições ambientais, os resultados não são nada animadores, verificando-se que cerca de 50% das instituições não detém nenhum sistema de controlo de temperatura nem humidade, seja para o filme, áudio ou vídeo. Contudo, esta realidade saída das respostas ao inquérito contrasta com a percepção dos responsáveis sobre o estado geral de conservação das suas colecções que, em termos gerais, consideram que estão num estado “aceitável”. Uma incoerência para a qual o orador chamou a atenção.

Hilário Lopes destacou o papel da migração e digitalização como forma de preservação digital, sendo incontornável para manter a capacidade de acesso permanente à informação. Conforme referiu, “a digitalização dos acervos é a única forma eficaz de assegurar a salvaguarda e preservação a longo prazo dos arquivos audiovisuais”. No entanto, os resultados obtidos nos inquéritos não vão ao encontro desta leitura: 50% das organizações nem sequer previu ou equacionou a digitalização dos acervos.

Decorrentes dos resultados obtidos são identificadas duas realidades distintas no panorama dos arquivos audiovisuais em Portugal. Por um lado, os arquivos das estações de televisão e os arquivos públicos nacionais, como o da Assembleia da República e o da RTP; por outro, os arquivos exclusivamente dedicados ao audiovisual. Identificam-se grandes carências ao nível da formação dos técnicos nesta área, bem como uma percepção distorcida do estado de conservação das colecções audiovisuais que se traduz num aumento drástico do risco e degradação acelerada dos documentos. Importa também referir um atraso considerável na definição e implementação de planos de digitalização dos conteúdos em formatos e suportes obsoletos, bem como dificuldades significativas ao nível do conhecimento e tratamento da informação audiovisual.

Relativamente aos desafios que se colocam à comunidade, num âmbito mais global não se verifica a existência de uma estratégia clara e comum para a preservação a longo prazo do património audiovisual nacional, não existindo um enquadramento global de políticas. Prevê-se que com o programa Horizonte 20 20 a situação se inverta um pouco, visto que existe uma verba destinada à digitalização dos acervos das empresas da comunicação social, dado o peso e influência que têm. A nível micro das organizações de arquivo, verifica-se a necessidade de definição e implementação de políticas, procedimentos e normativos para a gestão arquivística de documentos audiovisuais. Acresce também a necessidade de uma maior especialização da componente audiovisual na formação superior em Portugal, à semelhança do que ocorre a nível internacional, por exemplo na vizinha Espanha. Este estudo alerta igualmente para a necessidade das organizações desenharem um plano, identificarem os recursos, o tempo de execução e depois focarem-se em encontrar os meios que permitam a implementação do projecto. Outro foco das instituições deverá passar não apenas pela digitalização, mas pela preservação tendo em conta a vertiginosa evolução tecnológica a que assistimos actualmente.

No final da sua comunicação, Hilário Lopes brindou todos os presentes com imagens antigas da RTP relativas à cidade de Faro, que constituiu mais um momento alto deste evento.

Seguiu-se um interessante e animado debate onde foram colocadas questões acerca da tecnologia mais adequada para guardar vídeos de forma a garantir o acesso continuado ao longo tempo, bem como o papel da digitalização como forma de preservar formatos cujas tecnologias já se encontrem obsoletas. Também foi demonstrada a preocupação com a necessidade da elaboração de orientações contendo procedimentos a observar por pequenas instituições com parcos recursos. Foram igualmente abordados aspectos relacionados com o acesso à informação, a sua disponibilização aos cidadãos, bem como os custos associados à aquisição/utilização de conteúdos.

Hilário Lopes, quando questionado acerca do que deve ser feito em prol da salvaguarda do património audiovisual, foi peremptório: “O que devemos fazer nós sabemos! É mais como fazer! Nós sabemos, estão identificados os principais problemas. Passam transversalmente por um enquadramento global e legal sobre a preservação do património, e conseguir encontrar os recursos e meios com vista à sua salvaguarda, bem como pela formação e intervenção mais activa dos responsáveis pelas organizações”.

Alexandra Fonseca

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